Não há vagas
Maternidades de Pelotas estão com a capacidade esgotada
Depois do fechamento do setor na Santa Casa de Misericórdia, os outros dois hospitais têm dificuldade de atender a todos os partos
Gabriel Huth -
A situação das maternidades em Pelotas está cada vez mais complicada. Depois do fechamento dos 19 leitos do SUS na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, há 53 dias, as gestantes que dependem do sistema público de saúde ganharam uma preocupação extra no momento de dar à luz. Sem mais espaço nos hospitais de referência, até o Pronto-Socorro de Pelotas (PSP) precisou improvisar salas de parto.
Durante a madrugada de terça-feira (25), cinco gestantes deram entrada no PSP prestes a darem à luz. E lá seguiram até a manhã, porque todos os leitos do SUS disponíveis à maternidade estavam ocupados. "A situação colapsou", resume a diretora-geral do Pronto-Socorro, Rosana van der Laan. O local não é o mais adequado para esse tipo de serviço, mas também não pode deixar de atender a emergências. "Não é a nossa vocação, mas todas as gestantes que entram aqui têm atendimento", garante Rosana.
Dienifer dos Santos, 23, era uma das gestantes que aguardavam um leito na Maternidade. Ela chegou ao PSP à 1h30min de terça-feira com a bolsa rompida. Passou pela triagem ainda no início da madrugada e só foi receber atendimento de manhã, conforme relatou a sua sogra Carla Fuentes. "É um absurdo o que está acontecendo com a saúde na cidade", queixou-se Carla. Ela se deslocou para o Pronto-Socorro por recomendação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a ausência de vagas nas maternidades.
Sem condições de ser transferida para outro município da região devido ao estado avançado do trabalho de parto, a expectativa era de que Dienifer tivesse seu primeiro filho em um leito improvisado no PSP. Quando o menino estava prestes a nascer, veio a notícia de que um leito havia sido liberado no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a gestante pôde ser transferida. Antes dela, outras mulheres não tiveram a mesma sorte e deram à luz no Pronto-Socorro.
O espaço que está sendo utilizado para atender às gestantes não foi projetado para partos. Trata-se de uma sala de isolamento que, devido à situação extrema encontrada, foi higienizada e preparada para acolher as mulheres grávidas. Para auxiliar no procedimento, obstetras do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP/UCPel) deslocam-se até o Pronto-Socorro. Além deles, há equipes do próprio PSP capacitadas para atender as gestantes.
Rosana garante que o local possui estrutura física para realizar os atendimentos. "Temos berços e incubadoras neonatais", afirma. Como não é o local mais adequado para a prestação do serviço, a paciente e o bebê são transferidos assim que há liberação de vagas nas maternidades - como aconteceu com Dienifer. A secretária de Saúde Ana Costa afirma que as gestantes que chegaram de madrugada no PSP já foram encaminhadas para leitos adequados.
Na manhã, mais gestantes chegaram ao Pronto-Socorro sem perspectiva de conseguir vaga nas maternidades, como Roberta Tedesco, 32. Ela e o marido Rafael Ferreira peregrinaram pelos hospitais de Pelotas, mas não havia leitos pelo SUS. Ela está grávida de 39 semanas e já teve a bolsa rompida. O marido contou que todo o pré-natal de Roberta foi feito no Núcleo Ambulatorial do HU e a expectativa era de que o bebê nascesse naquele hospital. A realidade encontrada foi de lotação esgotada e o PSP como única saída.
Outros procedimentos ginecológicos também foram prejudicados pela falta de leitos. Uma adolescente de 15 anos que sofreu um aborto espontâneo procurou o sistema de saúde para realizar uma curetagem, mas não conseguiu atendimento. "Ontem (segunda-feira) o médico disse que eu precisava fazer isso urgente. Hoje eu vim e não tem como fazer por falta de leito", relatou. O sentimento, confessou, era de medo e desamparo.
Crise
Na cidade, três hospitais tinham capacidade de realizar os partos via SUS: o Hospital-Escola, o Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e a Santa Casa de Misericórdia. Os dois primeiros concentravam seus atendimentos nos casos de alto risco e a Santa Casa atendia os partos considerados mais simples. Com a crise nas finanças da Santa Casa, os 19 leitos materno-infantis foram fechados e a demanda concentrou-se nos outros dois.
Apesar dos esforços, HE e HU não dão conta de todos os casos. Rosana van der Laan explica que a ocorrência de partos dentro do PSP era esporádica. Agora, diante dessa situação, não são raras as gestantes que precisam recorrer ao local.
Dependendo do caso, a gestante pode ser transferida para municípios da região. Para isso, não pode haver risco presumível. Se a gestante entrar em trabalho de parto prematuro, por exemplo, a transferência é vetada. Piratini e Jaguarão são algumas das cidades que estão dando suporte a Pelotas.
O que diz a prefeitura
Ana Costa, secretária de Saúde, garante que o município tem feito esforços para encaminhar aos hospitais de referência as gestantes que chegam no PSP. Ela afirma que todas as mulheres grávidas que deram entrada no Pronto-Socorro na madrugada de terça-feira já foram encaminhadas para os leitos que ficaram disponíveis no Hospital-Escola pela manhã. No entanto, o fluxo de gestantes no local é constante e a situação não deve ser normalizada tão cedo.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário